quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Reflexão - As bolsas para a Segurança Pública

O Ministério da Justiça e o Governo Federal, pensando fazer uma borboleta, fizeram um morcego na área de Segurança Pública entre ontem e hoje. Para usar uma metáfora, tão ao gosto da midia nos últimos tempos, deram um tiro no pé. E foi um tiro de 44Magnum, com projétil hydrashock.

Analisemos a tragédia em duas fases:

1ª) Foi anunciado que a bolsa formação, auxilio financeiro pago aos policiais que se matriculam nos cursos da Senasp, seria estendida aos servidores com renda de até R$ 3.200,00. Até agora, esse auxilio era pago aos que ganhavam até R$ 1.700,00. Pois bem, foram disponibilizadas 200.000 vagas nos cursos, com período de inscrição de 00hs de 26/01 até 00hs de 30/01. O problema é que o sistema não foi preparado para atender a demanda. A página caiu e poucos conseguiram se inscrever. Em razão do problema, o período de inscrições teve a data de início prorrogada para 00hs de 27/01. Novamente, o sistema não consegue dar vazão a demanda e ninguém está conseguindo acesso.

2ª) O Presidente Lula anunciou hoje duas novas bolsas para a Segurança Pública. A Bolsa Copa e a Bolsa Olímpiada. São auxílios financeiros de R$ 1.000,00 e R$ 1.200,00, respectivamente, a serem pagos aos policiais civis e militares lotados em cidades sedes dos jogos da Copa e aos policiais do Rio de Janeiro (suponho que da capital, não do estado do RJ). Bom, dizendo o mínimo, o governo acaba de cuspir na cara de todos os policiais que trabalham em cidades do interior, onde não há jogos da Copa nem competições olímpicas, além de ter criado uma faixa salarial nas polícias por critério de lotação.

É a mais cabal prova de que o governo federal age, em Segurança Pública, pelos mesmos critérios cretinos de privilegiar as instituições onde o investimento possa render votos, graças a visibilidade. Não é por outra razão que os governos estaduais destinam as melhores viaturas e equipamentos para as regiões metropolitanas, onde está concentrada a midia, como se não houvesse crimes em cidades do interior. Um absurdo total, que demonstra, mais uma vez, que o poder público está se lixando para a população e que o objetivo, com essas iniciativas, é garantir manchetes.

Uma rápida pesquisa, em qualquer banco de dados, mostra que a maior parte dos crimes, como assalto a bancos e tráfico de drogas, migrou para as pequenas cidades, justamente porque os bandidos se deram conta de que a estrutura policial é incapaz de fazer frente a quadrilhas organizadas e bem armadas. Não há, sequer, armamento capaz de intimidar um bando armado de fuzis. Centenas, talvez milhares, de pequenos municípios tem meia dúzia de policiais que podem ser fácilmente dominados, como tem ocorrido frequentemente em todos os cantos do País. Por outro lado, desconhece o governo, ou faz que desconhece, que eventos como a Copa e as Olimpíadas, exigiram reforço dos efetivos policiais das cidades sedes. E de onde virá esse reforço? Das cidades do interior, onde já poucos policiais e onde ficarão menos ainda, sobrecarregados porque terão de fazer seu trabalho e mais o daqueles que irão reforçar os esquemas de segurança nas grandes cidades. Então, é óbvio, os policiais das cidades do interior, que já são preteridos sempre, serão penalizados duplamente: não ganham as tais bolsas e ainda terão de enfrentar o acúmulo de trabalho pelo desfalque obrigatório do efetivo.

O governo, estupidamente, ou na ânsia de produzir manchetes, não deve ter aquilatado muito bem o tamanho da besteira. Se alguém da oposição tivesse pensado nisso, não poderia causar maior estrago. Calculando que cerca de 90% dos policiais brasileiros estão excluídos desses programas, dá para dizer, com alguma precisão, que foram jogados no lixo 1.500.000 votos, numa conta bem otimista. Sem falar que o Ministro da Justiça, candidato ao governo do RS, garantiu para si a fúria de todos os policiais civis e militares lotados nas cidades fora da região metropolitana de Porto Alegre.

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