sábado, 2 de outubro de 2010

Tínhamos de fazer ouvir nossa voz, diz policial sobre protesto no Equador

País tem estado de exceção após protestos que encurralaram presidente.
Clima na capital, Quito, está aparentemente mais calmo nesta sexta (1º).

capital do Equador, Quito, amanheceu esta sexta-feira (1º) em clima de aparente tranquilidade, após os distúrbios que começaram com protestos da polícia e terminaram com uma saldo de pelo menos um morto e cinco feridos na véspera.

O aeroporto internacional, ontem fechado durante algumas horas, opera normalmente, e já não há sinais da tensão que quase levou o país ao que o governo classificou de um golpe militar, quando soldados e militares protestaram contra a Lei do Serviço Público, que está em tramitação na Assembleia Nacional.

Entre outras medidas, a lei que o presidente tenta homologar quer acabar com benefícios que a categoria recebe a cada cinco anos.

“O presidente não conversou com a polícia sobre o teor do projeto mandado à Assembleia”, reclama um policial ouvido pelo G1, sob a condição de anonimato.

Segundo ele, a categoria e os militares não tinham outra alternativa que ir às ruas. “Tínhamos que fazer ouvir nossa voz de protesto.”
Vista da cidade no início da tarde desta sexta (1º). (Foto: Amauri Arrais/G1)

 Soldados patrulham o palácio do governo do Equador, em Quito, na manhã desta sexta-feira (1º). (Foto: AP)

O policial reconhece que houve "um excesso de força por parte de alguns companheiros". "Mas quando um governo não escuta uma categoria, chega um momento em que há um fato detonador.".

Nesta sexta, ele afirma, o ânimo dos policiais foi afetado pela saída do chefe da corporação, Freddy Martinez. "É um homem muito bom, já tive a oportunidade de trabalhar com ele. Sabe escutar sua gente", descreve o policial, há 22 anos na corporação. Em sua opinião, o presidente quer colocar no comando da polícia alguém "que sirva a seus interesses".

Ao G1, ele também negou uma suposta tentativa de golpe militar, como acusou o presidente Rafael Correa. "Nunca pensamos nessa ação como um golpe. A única coisa que queremos é que se conserve um direito. Um presidente não pode macular uma instituição de 42 mil pessoas que está disposta a morrer por seus ideais", disse.

“Agora estamos em uma pequena transição. Os policiais voltaram às ruas, mas o governo vai buscar os culpados [pelos protestos]”, diz o taxista Daniel L., que pediu para não identificar seu sobrenome por ter familiares na polícia.

“Os policiais ainda estão inconformados pelos salários. Ele têm razão. O presidente [Rafael Correa] quer ter razão em tudo que fala”, opina.

Em editorial de capa, o jornal equatoriano “Hoy” condena a “insubordinação da polícia e Forças Armadas contra o governo”. “A insólita medida fere a estabilidade democrática. É inadmissível que em nome dos interesses de um grupo, se afete o bem comum do país.”

Em comunicado publicado nos jornais, a Associação Equatoriana de Editores de Jornais (Aedep, na sigla em espanhol) rechaçou os protestos que também atingiram alguns meios de comunicação.

“A decisão governamental de obrigar a todos os meios audiovisuais a formar uma cadeia nacional “indefinida e initerrupta”, ao amparo do estado de exceção, impediu a cidadania de ter outras versões dos acontecimentos que não fossem as oficiais”, diz a nota.
Militares patrulham as ruas de Quito nesta sexta-feira (1º). (Foto: Amauri Arrais/G1)

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