Suspeita de desvio para narcotraficantes é investigada pelo Exército em inquérito policial
POR MAHOMED SAIGG
Rio – O terremoto que devastou o Haiti no início do ano abalou as estruturas da Força de Paz da ONU, que ocupa o País desde 2004. Aproveitando-se da ausência de grande parte do efetivo do Batalhão Brasileiro — que estava nas ruas prestando socorro às vítimas da tragédia —, militares teriam desviado armas e munições do quartel. O governo brasileiro confirma o desaparecimento de armas e a abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar o caso.
Enquanto o resultado do IPM não é divulgado, circula na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do País (Minustah) a informação de que o armamento desviado teria sido vendido a narcotraficantes de países da América do Sul, como Colômbia, Venezuela e Bolívia. Entre os suspeitos, estariam praças temporários, entre eles um sargento.
A Procuradoria de Justiça Militar, em Brasília, designou um de seus membros para acompanhar o IPM sobre o desvio. No início do mês, a mesma procuradoria mandou instaurar procedimento para investigar as denúncias de O DIA, de que jipes e caminhões desviados do Exército estavam sendo negociados em ferros-velhos da Região Metropolitana do Rio.
O caso é tratado como prioritário pelo governo brasileiro. Diante do orgulho nacional em torno da missão de paz, o desvio de armas é mal visto, mesmo se tratando de caso isolado em momento de atenções voltadas para socorrer vítimas. A primeira informação que se chegou a ventilar, após ter vazado a informação do possível desvio, é que se tratava apenas do desaparecimento de um fuzil carregado, com conivência de um soldado com falha de conduta já investigada. De acordo com fontes militares, também se investiga a possibilidade de as armas terem sido soterradas.
Decisiva para esclarecer caso do possível desvio, a semana passada foi de intensa movimentação na missão de paz. Terça e quarta-feira passadas, o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Fernando Sérgio Galvão, fez visita de avaliação do contingente brasileiro no Haiti. Conversou com o comandante da Minustah, general Floriano Peixoto Vieira Neto, encontrou-se com autoridades locais e verificou as instalações e condições de emprego do reforço de pessoal recém-chegado ao Haiti. Quinta-feira, o secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou a saída do general Floriano Peixoto do comando das operações militares no Haiti. A troca é apontada pelo governo brasileiro como de rotina e já anteriormente prevista.
Escolhido para substituir o general Floriano Peixoto Vieira Neto — no comando da Minustah desde abril de 2009 — o general Luiz Guilherme Paul Cruz já chefiou o Batalhão Brasileiro no Haiti em 2008. Agora ele volta ao país com a missão de esclarecer o sumiço das armas e munições entre os militares de todos os países que integram a tropa da Minustah.
Entre eles estão: Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Equador, França, Filipinas, Guatemala, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Sri Lanka e Uruguai.
No Rio, desvio de viaturas e peças
As suspeitas de fraudes envolvendo militares que teriam desviado armas e munições do Batalhão Brasileiro no Haiti em troca de grandes quantias em dinheiro — neste caso em dólares — rondam também quartéis do Rio. Desde o início do mês, O DIA vem mostrando em série de reportagens os detalhes de esquema que desvia jipes e caminhões do Exército.
Após quatro semanas de investigações equipe de O DIA encontrou em ferros-velhos da Região Metropolitana vários veículos que deveriam estar guardados em quartéis. Negociados a peso de ouro, eram vendidos a colecionadores de todo o País.
Um dos depósitos visitados funcionava em Itaboraí. Lá, viaturas que haviam sido retiradas de maneira clandestina do Parque Regional de Manutenção da 1ª Região Militar, em Magalhães Bastos, eram negociadas por até R$ 30 mil.
Após a publicação da reportagem, todos os veículos fotografados no local reapareceram na mesma unidade militar de onde haviam sido retirados. De acordo com o Comando Militar do Leste, o material teria sido devolvido pelo dono do ferro-velho. O comerciante, por sua vez, nega a versão. Segundo ele, equipes do Exército estiveram no depósito e retiraram todas as viaturas. Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para investigar o caso.
FONTE: O DIA
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