"eu não sei escrever pra gente pobre. Eu detesto."
A atriz Vera Fischer mostrou hoje uma faceta que eu não conhecia: é uma afiadíssima crítica literária (sic), além de volumosa escritora. Numa só frase botou toda a obra de Marcel Proust no chinelo, e ainda revelou que escreve muito: colocou dez livros no papel em apenas um ano – realmente, a mulher escreve muito!…
Com toda a sua verve crítica, enfiou os flashbacks de Proust (quem???) na caixinha de fósforos e sentenciou sobre seu próprio estilo: “esse negócio de descrever uma folhinha caindo da árvore em quatro páginas, ninguém tem mais saco pra ler isso, não. As coisas são rápidas nos meus livros.”
Demonstrando ser uma escritora de profunda espirituosidade e latejável elitismo, deu uma grande galhofada da cara dos miseráveis, dizendo que detesta escrever pra gente pobre. Mas admitiu que os pobres também podem comprar seus livros, afinal “eles não custam caro. Eles [os pobres] vão se identificar e adorar. Coisa bonita sempre é melhor.”
Pelo visto, Vera Fischer levou Manoel Carlos às últimas consequências. Ela parece ter incorporado com tanta intensidade os personagens do Leblon, que acabou tornando-se ela própria uma personagem daquelas novelas das oito. Talvez assim a vida fique “mais chique”.
Fico imaginando essa figura comendo pipocas e assistindo as ações policiais nos morros cariocas. Ah!, mas isso não deve existir na vida dela, porque “coisa bonita é sempre melhor” e gente pobre amontoada nos morros é muito feio.
Segue logo abaixo a entrevista que ela concedeu à coluna de Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo. Essa pérola merece ser lida.
EU NÃO ESCREVO PRA POBRE
Vera Fischer lança, no dia 20, o romance “Serena”, o primeiro de uma série de dez, todos com nome de mulher. Ela falou à coluna:
Folha – Como é o romance?
Vera Fischer – Não queria que meus livros fossem açucarados, mas sim vibrantes, para o público começar a ler e não parar mais. Já tenho dez livros escritos. E não queria títulos como “Um Amor e a Traição”, “O Barco e a Saudade”. Falei: vou botar nome de mulher, “Serena”, depois “Donatela”, “Valentina”, “Pietra”… É a marca Vera Fischer. Fica mais chique.
Dez livros?
Fiz um atrás do outro, durante um ano. Como tenho muita imaginação, vou criando personagens. Tem uma situação ou duas pelas quais eu passei. Mas ninguém pode saber, é “segredíssimo”. Eu descrevo os personagens, o perfume, as roupas, se é Ungaro ou Valentino. Meus personagens não são nunca pobres, são sempre ricos (gargalhada).
Por quê?
Porque eu não gosto, eu não sei escrever pra gente pobre. Eu detesto.
O universo dos ricos é mais interessante?
É mais interessante. Cada livro tem pelo menos uma viagem ao exterior. O “Serena” tem Marrocos e St. Barths, no Caribe.
Os que você chama de pobres podem comprar seus livros.
Podem. Porque eles não custam caro. Eles vão se identificar e adorar. Coisa bonita sempre é melhor.
Qual é o seu estilo?
Ah, esse negócio de descrever uma folhinha caindo da árvore em quatro páginas, ninguém tem mais saco pra ler isso, não. As coisas são rápidas nos meus livros.
Tem até um sequestro.
Achei que o livro tava acabando e aí falei: tem que inventar coisa interessante pra acontecer. Vamos botar um sequestro! É ação.
Tem também sexo oral.
Os meus livros têm sexo de todo tipo. Têm gays fazendo sexo – eu não sei como é, mas invento. Tem de tudo. Não tenho pudor. O mundo dos escritores é assim.
Em 2009 você disse: “Estou há dois anos sem sexo”. E agora?
Ah, de vez em quando tem um sexozinho assim rápido.
O que você achou de uma mulher ser eleita presidente?
Eu achei que podia uma mulher ser eleita presidente, mas não esta (Dilma Rousseff). Porque essa não dá, né? O PT não dá mais.
Autor: André Raboni
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